Este é um caso diferente de escoliose, comparado aos que costumo apresentar, devido à etiologia, ou seja, estou falando da causa do problema. Trata-se de uma Escoliose Neuromuscular que, como o próprio nome sugere, é causada por doença neuromuscular congênita, que acarreta um desequilíbrio da musculatura. Isto quer dizer que cada lado da musculatura puxa para direções diferentes, causando deformidades gravíssimas no tronco e, muitas vezes, evolui rápido e progressivamente.
Para solucionar uma situação como essa, são necessárias abordagens cirúrgicas extensas e com brevidade. Geralmente, elas são realizadas no início da adolescência, entre 12 e 13 anos de idade. No entanto, essas abordagens, por grande necessidade, podem acontecer ainda na infância, por meio de outros sistemas que permitam o crescimento. Mas essa não é a situação desta criança em questão.
A fotografia 01 e 02 mostram a coluna pendendo para a direita e para a esquerda, porque nas escolioses neuromusculares, independente da movimentação do tronco, a deformidade se mantém ou piora, o que prejudica os prognósticos de marcha e deambulação do paciente. Quanto mais o tempo passa, menores são as chances de sucesso e maiores os problemas para andar. Na foto 04, vemos a paciente em pé, com um desbalanço grave do tronco e deformidade toracolombar de aproximadamente 60 graus.
Após a correção, conforme foto 03 e 06, conseguimos observar um alinhamento quase perfeito do desvio, com correção total do plano coronal e ótimos resultados tanto do padrão estético, quanto do padrão funcional. Tudo isso trará benefícios para a marcha, consequentemente o alívio dos sintomas dolorosos, evitará a progressão indefinida da curva e, em especial, trará grande melhora para o padrão pulmonar e respiratório da criança, além de acomodação mais adequada dos órgãos internos na região abdominal.
Já na foto 05, é possível notar a escoliose vista de perfil, em que o tronco está totalmente descompensado e caído para frente. Isto faz com que a marcha seja extremamente dificultada, pois o ponto de equilíbrio fica na frente do corpo, obrigando a musculatura paravertebral, ou seja, a musculatura do tronco, puxar a criança para que ela possa andar. Por sua vez, essa sobrecarga da musculatura, causa quadros de dores contínuas.
Com o alinhamento do tronco e equilíbrio da coluna sobre a pelve, foi possível chegar à correção total da deformidade, tanto no plano coronal, como no plano sagital, conforme fotos 03 e 06.
Afirmo que casos como este são extremamente complexos e devem ser realizados apenas em hospitais especializados, por equipes capacitadas, em especial, as multidisciplinares. Também destaco que estes profissionais possam acompanhar a criança desde o pré-operatório, onde a equipe de pediatria e nutrição avalia a alimentação adequada, ganho de peso, entre outros fatores das especialidades.
Já no procedimento cirúrgico e pós-operatório imediato, é fundamental a presença de fisioterapeutas e preparadores físicos especializados, para o acompanhamento a longo prazo e o restabelecimento da função de marcha e prática de exercícios.
Apesar da alta complexidade, um tratamento como este traz sentido para a prática médica que demanda tanta dedicação, estudos, carinho e sacrifício.
Grande abraço,
Dr. André Evaristo Marcondes